ESPERA

18/01/2016 17:23

Hoje olhei p’ro mundo

e vi nele a longa estrada;

mente suja, corpo imundo,

é o caminho da jornada.

 

Quando a flor arrocha e abre,

num esplendor sem precedentes,

pergunto à espada e ao sabre

quantos mais dos descendentes

serão alvos de massacre?

 

A inveja devora o corpo,

o ódio castiga a mente

e o homem anda torto

na sua forma aparente.

 

Tristeza amante das trevas,

venha à luz p’ra ter amparo.

Libera as tuas reservas;

eu sou o teu anteparo.

Mas por Deus, nunca te entregues.

 

Tenta amar tudo de novo,

sentir o gosto da vida.

Construir um mundo novo,

sem jamais pensar na partida.

 

Ouve o canto, sente a flora,

voe alto no horizonte.

Olha a fauna que te implora

ser sempre o que fostes ontem,

e nunca o que és agora.

 

A felicidade nasceu primeiro.

O mundo a dividiu.

Já não temos nada inteiro,

até o amor se traiu.

 

Desejar o amor do mundo,

sentir toda essa ganância,

é algo tão profundo

que parte de uma ânsia

que às vezes até me confundo.

 

Penso de dia e de noite.

Penso ao clarão da lua.

Sinto o sol no horizonte,

olho a criança na rua

e um velhinho defronte.

 

É o passado na criança

que renasce à cada dia.

Eu, adulto, na lembrança,

e o velhinho na poesia.

 

Mas o sol há de brilhar

num raio de primavera.

E breve tem que mudar;

valerá toda essa espera

por nascer, viver e amar.