ESPERA
Hoje olhei p’ro mundo
e vi nele a longa estrada;
mente suja, corpo imundo,
é o caminho da jornada.
Quando a flor arrocha e abre,
num esplendor sem precedentes,
pergunto à espada e ao sabre
quantos mais dos descendentes
serão alvos de massacre?
A inveja devora o corpo,
o ódio castiga a mente
e o homem anda torto
na sua forma aparente.
Tristeza amante das trevas,
venha à luz p’ra ter amparo.
Libera as tuas reservas;
eu sou o teu anteparo.
Mas por Deus, nunca te entregues.
Tenta amar tudo de novo,
sentir o gosto da vida.
Construir um mundo novo,
sem jamais pensar na partida.
Ouve o canto, sente a flora,
voe alto no horizonte.
Olha a fauna que te implora
ser sempre o que fostes ontem,
e nunca o que és agora.
A felicidade nasceu primeiro.
O mundo a dividiu.
Já não temos nada inteiro,
até o amor se traiu.
Desejar o amor do mundo,
sentir toda essa ganância,
é algo tão profundo
que parte de uma ânsia
que às vezes até me confundo.
Penso de dia e de noite.
Penso ao clarão da lua.
Sinto o sol no horizonte,
olho a criança na rua
e um velhinho defronte.
É o passado na criança
que renasce à cada dia.
Eu, adulto, na lembrança,
e o velhinho na poesia.
Mas o sol há de brilhar
num raio de primavera.
E breve tem que mudar;
valerá toda essa espera
por nascer, viver e amar.