PSICOTERAPIA - Perguntas e Respostas

Quando resolvi produzir este trabalho, tinha em mente contribuir para o esclarecimento de algumas dúvidas que as pessoas comumente têm. Na verdade, muitas coisas que acontecem na vida das pessoas têm relações muito próximas.

Mas tudo tem um começo, evidentemente.

Como profissional de Marketing, prestava consultoria em uma empresa do segmento gráfico, e utilizava um método criado e desenvolvido por mim, quando da minha passagem por uma multinacional americana.

O processo constituía em criar uma aproximação maior entre os funcionários de “chão de fábrica” e a diretoria. Para isso era preciso conhecer os problemas enfrentados pelos funcionários que iam desde recursos ferramentais até relações pessoais.

Nessa relação tão próxima e amiga, necessária para encontrar as causas dos problemas da empresa, estava me transformando em um terapeuta, principalmente em relação aos menos privilegiados sócio-econômico-culturalmente. Percebi nesse momento, que era preciso aprender mais. Era preciso conhecer melhor a pessoa humana. Era preciso voltar ao banco universitário.

Conhecer as bases da Psicologia foi de fundamental importância e a paixão pela Psicoterapia veio através de cursos de especialização e simpósios que, cada vez mais, me faziam apaixonado pelo complexo comportamento humano.

Mais tarde, veio o contato com adolescentes, em idade entre 15 e 18 anos. Passei a lecionar em ensino médio e técnico, e isso me forneceu excelente material de trabalho. Pelos conhecimentos adquiridos, não tinha dificuldades em conquistar a atenção e a amizade deles, podendo orientá-los como professor, terapeuta, amigo e muitas vezes pai.

E foi nessa relação de confiança entre mim e meus alunos que comecei a ser procurado por seus pais. Muitos deles queriam entender o que levava seus filhos a terem tanto respeito, admiração e amizade por um professor.

Não havia segredo. Apenas o respeito mútuo, tão importante para o adolescente. Respeito que significava também impor limites, mas, e ao mesmo tempo, dar  responsabilidades e cobrar os resultados depois. Criticar o errado mostrando o certo. Enaltecer os acertos e ser sempre justo nos critérios de avaliação. 

Conhecer as bases da Psicologia

15/07/2013 16:04

Conhecer as bases da Psicologia foi de fundamental importância e a paixão pela Psicoterapia veio através de cursos de especialização e simpósios que, cada vez mais, me faziam apaixonado pelo complexo comportamento humano.

Mais tarde, veio o contato com adolescentes, em idade entre 15 e 18 anos. Passei a lecionar em ensino médio e técnico, e isso me forneceu excelente material de trabalho. Pelos conhecimentos adquiridos, não tinha dificuldades em conquistar a atenção e a amizade deles, podendo orientá-los como professor, terapeuta, amigo e muitas vezes pai.

E foi nessa relação de confiança entre mim e meus alunos que comecei a ser procurado por seus pais. Muitos deles queriam entender o que levava seus filhos a terem tanto respeito, admiração e amizade por um professor.

Não havia segredo. Apenas o respeito mútuo, tão importante para o adolescente. Respeito que significava também impor limites, mas, e ao mesmo tempo, dar  responsabilidades e cobrar os resultados depois. Criticar o errado mostrando o certo. Enaltecer os acertos e ser sempre justo nos critérios de avaliação. 

UM CASO MUITO COMUM

10/08/2014 14:59

A mãe da paciente me procurou, pois a filha apresentava apatia e abandono dos estudos, da escola e dos amigos.

Numa certa noite, mãe e avó buscaram ajuda no Colégio onde a paciente estudava através da Coordenadora Pedagógica. A coordenadora chamou-me em sua sala e, diante da mãe e avó, solicitou minha intervenção.

Durante a conversa, foi colocada a situação da família. A avó era separada, a mãe também era separada e ambas moravam com a paciente, mais um irmão um ano mais novo.

A mãe marcou, em meu consultório, uma primeira sessão, posteriormente cancelada devido à paciente se recusar a comparecer. Pedi à mãe que não forçasse sua ida, pois isso deveria ser espontâneo para o sucesso do tratamento.

Duas semanas depois a paciente compareceu à primeira sessão.

A sua ansiedade e depressão estavam estampadas em seu rosto.

Em meio a choros e risos ela começou a se soltar como se tivesse essa necessidade há muito tempo.

Contou que, no ano anterior, começara a namorar e desde então sua vida, que estava controlada, passou a ser carregada de pressões e ansiedades.

O namoro reviveu seu passado através de momentos que ela, a toda hora, comparava com aqueles que a marcaram na infância. Começou a achar que tudo o que fazia agredia as pessoas que amava, que eram basicamente a mãe e a avó. Esses momentos, vindos na lembrança, deixavam-na apática ou ansiosa.

No colégio ou em qualquer outra atividade não conseguia concentração. Qualquer barulho por mais leve que fosse era suficiente para dispersá-la.

A sua infância foi sempre muito tumultuada. Pai e mãe tinham brigas constantes. O casamento deles foi feito de altos e baixos, havendo sete separações e reconciliações até a separação definitiva. Isso fazia com que a paciente vivesse constantemente em trânsito entre sua casa e a de sua avó. Segundo ela, sempre que estava na casa de sua avó tinha o pensamento em sua casa, imaginando o que poderia estar acontecendo. Quando estava em sua casa, queria voltar para a casa de sua avó, pois era lá que se sentia bem e amada. Estava claro que era tremendamente apegada à avó, mas também à mãe. Aliás, a família sempre foi para ela algo muito importante. Cada vez que se ausentava de casa sentia-se como que perdendo a família. A saída definitiva do pai gerou um vazio muito grande visto que o pai deixou de visitá-la exceto para trazer a pensão.

Após a separação, o pai mudou totalmente de vida. Segundo ela, era por isso que ele não podia mais acompanhá-la. A mãe, sentindo medo, se contradizia em relação ao pai. Pedia para que ela o amasse, mas em seguida contava momentos que mostravam o outro lado do pai. Assim, ela não sabia exatamente qual era o verdadeiro caráter do pai e se devia amá-lo ou odiá-lo.

O seu único namoro também foi cheio de idas e vindas o que fazia com que ela revivesse, a cada briga ou reconciliação, a situação já vivida entre pai e mãe, quando ela tinha 9 anos. Por pressão do namorado, que a impediu de ir ao noivado da prima, sentiu uma enorme culpa. Era como se estivesse abandonando a família e tudo o que amava. Isso causou nela um ódio muito grande do namorado, mas manteve o namoro por não querer magoá-lo. 

Já ouviu histórias como essa? Continuaremos na próxima sessão.

FAZENDO UMA RETROSPECTIVA DA SESSÃO ANTERIOR...

13/10/2014 13:08

A mãe da paciente me procurou, pois a filha apresentava apatia e abandono dos estudos, da escola e dos amigos.

Duas semanas depois a paciente compareceu à primeira sessão.

No colégio ou em qualquer outra atividade não conseguia concentração.

A sua infância foi sempre muito tumultuada. Pai e mãe tinham brigas constantes.

Após a separação, o pai mudou totalmente de vida.

O seu único namoro também foi cheio de idas e vindas o que fazia com que ela revivesse, a cada briga ou reconciliação, a situação já vivida entre pai e mãe, quando ela tinha 9 anos.

Parou de sair de casa, inclusive ir à aula, para não deixar a família. A sensação de perda era constante. A avó, sempre preocupada, mantinha-a por todos os modos em sua guarda. Assim, ela dormia na avó, mas não conseguia deixar de pensar na mãe o tempo todo.

O retorno com o namorado gerou nova depressão. A cada vez que o namorado a tratava como mulher ela sentia-se deprimida e com ódio por ter permitido qualquer aproximação mais íntima. Sentia falta de carinho e afeto e queria se sentir protegida. Via na figura do namorado a figura do pai que faltara desde a infância. Apegava-se a ele na busca de segurança e encontrava, ao invés de um pai, um homem com desejos de homem. Num dos encontros, o namorado deixou uma marca em seu pescoço o que a transtornou. Primeiramente resistiu, mas depois cedeu. Consentiu no momento em que aconteceu, mas odiou depois. Achou que esconder da avó ou da mãe não seria direito e só conseguiu se acalmar quando finalmente contou a verdade.

A família, sempre reafirmava, era tudo para ela. Estava claro que era a própria auto-afirmação pela falta de uma família estruturada. Sentia a necessidade de ser abraçada como se estivesse buscando proteção e afeto e tinha um ciúme muito grande das pessoas que amava. 
Não se sentia abandonada pela mãe, mas ficou claro sua predileção pela avó, que cuidou dela por preocupação.

Dias depois à primeira sessão, a mãe me ligou fazendo comentários sobre os dias subsequentes da filha. Disse que a paciente tivera momentos de ausência inúmeras vezes. Comunicou que iria arrumar o quarto, já arrumado pela mãe, e demorou cerca de três horas limpando os bichinhos de pelúcia.

Foi flagrada pela avó, parada na porta, olhando pra lugar nenhum.

Pediu à mãe para ir ao shopping, mas a mãe me perguntou primeiro para saber se era conveniente. Era clara a insegurança da mãe.

Após as primeiras análises, conclui que a paciente tinha uma situação traumática ocorrida durante o processo de separação dos pais. A transição fez com que ela buscasse apego à avó por inúmeras vezes.

Todas as vezes que ocorria uma nova briga, que gerava um novo afastamento, a mãe colocava os filhos contra o pai. Na reconciliação fazia a operação inversa. Dizia que o pai não era tão ruim e que tudo aquilo era passageiro. Isso, segundo a paciente, ocorreu por sete vezes. A cada vez que ia pra casa da avó, sentia a separação da mãe. Quando voltava pra casa da mãe, sentia a separação da avó.

Apesar de gostar do pai, tinha as histórias da mãe criticando-o na tentativa de justificar a separação. 
O processo de ausência em que a paciente se encontrava na ocasião demonstrava a falta de poder para decidir qualquer coisa em sua própria vida. No entanto, segundo ela mesma, já havia superado esta fase, o que fez com que se sociabilizasse novamente junto aos colegas de escola.

O reinício de um namoro já marcado por idas e vindas colocou-a novamente nesse processo de depressão. A cada vez que as pessoas se impunham sobre ela, ela se sentia desprestigiada e deprimida, procurando a ausência como fuga.

Fim da 2ª sessão.

DE VOLTA AO DIVÃ

19/05/2015 13:36

DE VOLTA AO DIVÃ

A mãe da paciente me procurou,pois a filha apresentava apatia e abandono dos estudos, da escola e dos amigos. No colégio ou em qualquer outra atividade não conseguia concentração.

Após a separação, o pai mudou totalmente de vida.

A filha parou de sair de casa, inclusive ir à aula, para não deixar a família. A família, sempre reafirmava, era tudo para ela.

Após as primeiras análises, concluí que a paciente tinha uma situação traumática ocorrida durante o processo de separação dos pais.

A escola, ponto principal de sociabilização, foi a primeira coisa a ser excluída. Abandonou os estudos não fazendo nem mesmo as provas de final de ano.

O ponto crítico, no entanto, era a falta do pai. A expulsão do pai de sua vida estava fazendo com que ela buscasse a figura paterna no namorado. De acordo com sua explanação, o namorado queria tê-la como namorada (mulher), enquanto ela o queria como uma força segura e terna. Disse inclusive que não suportava os carinhos, mas aceitava por submissão. Depois se sentia culpada e esse complexo a fazia sofrer. Era como se estivesse cedendo ao pai e isso a colocava em frustração e com um enorme complexo de culpa que a fazia sofrer como se estivesse sendo violentada por uma marca no pescoço, como ela colocou.

O caminho estava em alterar, principalmente, os valores da infância, quando da separação dos pais.

Naquele momento, a importância da relação era imprescindível e a separação não encontrava, na criança, uma lógica inteligível. Essa marca deixada no inconsciente fez com que sair de casa fosse um ato violento e de perda da família (o que já ocorrera, voltava a ocorrer a cada vez que se afastava de casa).

Após a primeira sessão, segundo a descrição de seus atos pela sua mãe, era possível notar que a paciente já entrara em processo reflexivo. Estava começando a resgatar os valores da infância e transportando-os para o presente. Era o primeiro passo para a mudança desses valores. Notei quão importante era que os valores fossem mesmo alterados sob um conceito mais atual e dentro de um raciocínio de 18 anos e não de 9.

Solicitar ir ao shopping, sozinha, era uma tomada de decisão vitoriosa dentro de seus conceitos e valores. Era preciso que a mãe a liberasse, deixando que ela tomasse tais decisões.

Na sessão seguinte a paciente apresentou-se com significativa melhora de comportamento. No entanto, não soube começar qualquer assunto sem que eu desse o início. Resolvi começar de onde havíamos parado na sessão anterior. Perguntei a respeito de sua infância, tentando buscar recordações, que tudo indicava, era onde estava a causa de sua depressão e ansiedade.

A paciente disse ter tido uma infância agradável e feliz, sempre ao lado da avó. Todas as vezes que a mãe ia buscá-la, para levá-la em casa, ela chorava muito porque não queria ir com a mãe.

Outro detalhe que pude ressaltar era que preferia conversar com pessoas mais velhas. Novamente a figura do pai estava presente.

Durante toda a sua infância, lembrou-se de ter tido apenas uma amiga, ao contrário do irmão que sempre foi bem relacionado.

Pouco se lembrava de experiências interessantes ao lado da mãe. As melhores lembranças foram ao lado da avó. Exceto na primeira sessão, jamais falou do pai.

Sem nenhum motivo, mudou de assunto como se quisesse evitar, naquele momento, falar sobre a mãe.

Perguntei-lhe a respeito do namoro e me disse que havia terminado definitivamente.

Nesse momento, falamos uma frase (duas palavras) ao mesmo tempo. Imediatamente, ela buscou na memória uma brincadeira de criança onde contamos as letras e depois associamos a palavras relacionadas a amor e afeição. Agora, via em minha frente uma criança de 9 anos, entusiasmada pela alegria de estar sendo correspondida em sua brincadeira. Isso durou aproximadamente 8 minutos. 

Fim da 3ª sessão.

OS NOVOS VALORES DA IDADE

18/08/2015 13:51

Após as primeiras análises, conclui que a paciente tinha uma situação traumática ocorrida durante o processo de separação dos pais.

A escola, ponto principal de sociabilização, foi a primeira coisa a ser excluída. Abandonou os estudos não fazendo nem mesmo as provas de final de ano. 
Pouco se lembrava de experiências interessantes ao lado da mãe. As melhores lembranças foram ao lado da avó. Exceto na primeira sessão, jamais falou do pai.

Perguntei sobre seus medos, se tinha medo de algo e ela, após pensar longamente, respondeu que não tinha medo de nada. No entanto, todas as vezes que a conversa partia para esse lado, notava uma transformação na paciente. Ela parecia transformar-se numa criança, alterando inclusive sua maneira

de falar. Ficava mais cadenciada e até o tom de voz ficava mais infantil.

Buscando colocá-la na realidade atual, mostrando-lhe os novos valores da idade, perguntei-lhe sobre o que pensava do futuro. Disse que pensava em ter sua própria casa para poder arrumá-la do seu jeito. Demonstrava, e muito, o seu senso de organização e limpeza. Dizia que gostava de todas as coisas no lugar e a casa devia estar sempre limpa e arrumada. Pensava, realmente, em constituir uma família, com filhos, não especificando quantos.

Falando de emprego, preferia um lugar onde tivesse o horário da manhã livre como num shopping center por exemplo, pois lá, além do horário, estaria em contato com muitas pessoas.

Em um breve contato com a paciente, durante a semana, soube que havia voltado à vida estudantil buscando recuperar o que havia ficado para trás.

Ela mantivera contato mais estreito, durante a semana, com uma de suas colegas de classe, exatamente aquela que, segundo seus comentários, tinha maior simpatia. Comentou sobre seu jeito de falar e das suas ações com um carinho especial, dizendo ainda que tinha maior afeição por ela do que pelas outras colegas de classe.

Paradoxalmente, estivera estudando com a amiga e comentou que a colega sabia o bastante para uma boa nota.

A nota máxima tirada pela colega fez com que ela ganhasse um pouco mais de auto-estima, colocando-se no lugar de orientadora ao invés de dependente. Sentiu-se como se estivesse dirigindo a amiga, tomando conta da situação.

A sessão seguinte foi totalmente diferente das iniciais. Já bastante confiante, procurou assuntos relacionados aos seus conhecimentos adquiridos durante a vida estudantil. Falou de fatos históricos que havia aprendido, bem como dados geográficos, mostrando-se bastante confiante e segura.

Sobre seus dotes culinários, algo que acha imprescindível para uma vida a dois (nota-se sua preocupação em relação à família e a um relacionamento sólido), fez comentários longos a respeito dos pratos que sabe fazer. Acha que a comida do marido quem deve preparar é a esposa e não a empregada.

Do seu cardápio pessoal, carne não faz parte. De nenhuma forma. Nem mesmo a carne branca. No entanto, adora molho vinagrete e doces, principalmente brigadeiro.

Em relação aos amigos, disse preferir amigos mais velhos, mas incrivelmente seus amigos são sempre mais ovos.

Na sessão seguinte, chegou reclamando de dores nas costas. Estava impaciente, como se quisesse que a sessão terminasse mais cedo. Nesse momento, falamos sobre postura e maneiras de se sentar para aliviar o problema. Após uma rápida massagem, sentiu-se melhor e continuou a conversa mais tranqüila. A necessidade que tinha de um contato maior estava bastante clara. Ser abraçada ou simplesmente tocada lhe fazia sentir segura e protegida.

Na sequência, fizemos alguns testes utilizando o baralho Zenner. A idéia era analisar sua sensitividade, para poder trabalhar diretamente em seu subconsciente. Era preciso que a paciente sentisse a mudança de valores ao longo do tempo.

Fim da 4ª sessão.

A ADAPTAÇÃO AO NOVO AMBIENTE

O que mantém um trauma por muito tempo é o fato do paciente não alterar os valores adquiridos durante a infância ou na época em que ocorreu. É preciso ficar claro que um automóvel, por exemplo, durante a infância não tem o mesmo valor que tem durante a adolescência nem tampouco durante a fase adulta. O que ocorre é que, com o surgimento do trauma, estabelece-se um bloqueio em que a análise deixa de existir. Passa a ser doloroso ao consciente rememorar a marca traumática. Assim, o inconsciente cria uma barreira impedindo que os valores sejam reavaliados conscientemente. É preciso penetrar novamente nesse ponto da história da vida do paciente para que, com novos conhecimentos lógicos, adquiridos na vida atual, os códigos de valores sejam recodificados, deixando claro a ele mesmo, e por ele mesmo, que aquela dor já não tem mais sentido, e que, de acordo com os valores atuais, não é motivo para tanto. Quando o paciente finalmente se conscientizar dessa mudança, fatalmente o trauma estará desativado e o paciente terá como lembrança apenas um fato histórico dentro de seu banco de dados, com o discernimento da lógica atual, bem mais estruturada.

Os resultados obtidos, no primeiro teste, como era de se esperar, não foram positivos. Contudo, a própria paciente, animada que estava para realizar os testes, solicitou que continuássemos na próxima sessão.

A sessão seguinte ocorreu oito dias depois por solicitação da paciente. Ela alterou o dia da semana por insistência da mãe. No que pude perceber, a mãe continuava exercendo forte influência sobre ela.

Pelas informações enviadas à minha secretária na clínica, a paciente havia conseguido emprego no Shopping Center, em uma loja de roupas, exatamente como ela dissera na sessão anterior. Assim, eu aguardava novidades e uma mudança visível nessa sessão.

Como o esperado, ela começou a sessão falando da novidade. Comentou sobre as obrigações de vestimentas e postura durante as horas de trabalho. A adaptação ao novo ambiente foi difícil e, após o terceiro dia de trabalho, pediu a conta.

Enquanto narrava sua história, parecia buscar as imagens daqueles três dias. Comentou a sua angústia enquanto trabalhava na loja. Via pais com crianças passando e se sentia presa. Parecia que essas imagens a perturbavam.

Nesse momento, pediu que eu desligasse o circulador de ar. Apesar do calor, o barulho a incomodava. Mostrava uma sensibilidade incomum.

O grande progresso foi haver conquistado esse emprego por si só. Sempre carregara o estigma de “lerdinha”, dito principalmente pela mãe. O fato de ir de ônibus a fez sentir-se livre. Achou importante tomar contato com o cotidiano.

Mais uma vez, disse que haveria de procurar algo novo. Como secretária talvez.

De sua vida na última semana, comentou que tinha dormido bem, tido sonhos interessantes e ido ao clube, coisa que há muito não fazia.

Na véspera da sessão seguinte sua mãe me ligou. Interessante as suas colocações. Era fácil analisar e entender a dependência da paciente. Pelas coisas que sua mãe me colocava, ficavam claros os motivos que levaram a paciente a esse estado tão depressivo.

Omar Carline Bueno - Psicoterapeuta

SEM ALTERAÇÕES EMOCIONAIS

Pelas informações enviadas à minha secretária na clínica, a paciente havia conseguido emprego no Shopping Center, em uma loja de roupas, exatamente como ela dissera na sessão anterior.
Pelas coisas que sua mãe me colocava, ficavam claros os motivos que levaram a paciente a esse estado tão depressivo. 

Quando comigo, a paciente não tinha sofrido mais qualquer alteração emocional. No entanto, sua mãe, sempre que me ligava, colocava novos pontos de conduta da paciente. Dissera que no domingo anterior, em almoço num restaurante, a paciente entrara em estado depressivo e começara a chorar. Todas as vezes que isso acontecia, a mãe e a avó estavam diretamente relacionadas. A pressão exercida pela avó era ainda maior. A mãe pressionava por pressão da avó. Todas as vezes que a paciente procurava se libertar, deparava-se com a mãe impedindo, e por um motivo muito mais social e ético do que salutar. Não queria se indispor com a mãe (avó), que segundo ela mesma, foi responsável, e ainda era, pela educação da paciente.

A conquista de um novo emprego poderia dar outro enfoque no tratamento. O convívio com pessoas diferentes e a necessidade de assumir responsabilidades poderia mudar sua postura.

A mãe da paciente justificou o cancelamento da sessão na semana anterior pelo fato da paciente se recusar a vir. No entanto, duas semanas antes, havia me perguntado se eu não achava que podia reduzir o número de sessões mensais. Disse-me que os valores estabelecidos estavam um pouco pesados. Mesmo depois de uma redução significativa, manteve a diminuição do número das sessões no mês, apesar de, na primeira entrevista, a avó deixar claro ter posses suficientes para dar à neta o melhor tratamento.

No que podia claramente observar nas sessões, era que as atitudes da paciente não condiziam com as atitudes que a mãe me confidenciava durante a semana.

A novidade na sessão seguinte era que voltara a trabalhar e agora em um consultório dentário como recepcionista, instrumentadora e secretária. Segundo alegou, não viera na semana anterior por não ter novidades pra contar. As saídas e passeios estavam acontecendo normalmente com o irmão e amigos.

EXPECTATIVA DE TRANSFORMAÇÃO

Nas duas sessões seguintes a paciente não compareceu. Sua mãe não me ligou na semana anterior como de costume.

Um dos grandes avanços no tratamento, sem dúvida nenhuma, estava no novo emprego conseguido como recepcionista em um consultório odontológico.

Infelizmente, sabia que a pressão exercida pela mãe era muito forte no ego da paciente. Toda a vida da paciente, até aquele dia, fora sempre carregada de “nãos”. A expectativa da mãe era que a filha se transformasse, através da terapia, naquilo que ela queria e não no que era preciso.

A libertação da paciente, objetivo da terapia, não era o objetivo da mãe. Ela sentia estar perdendo o controle sobre a filha. Na verdade, as depressões da paciente já eram origem de uma ansiedade que visava a uma necessidade de se libertar do vínculo materno. Como sempre viveu sob um jugo de moral compactuado pela avó, sentia-se como se estivesse violentando os padrões e preceitos familiares. Isso fez com que ela se fechasse em um mundo próprio. Ao dizer os primeiros “nãos” para a mãe, criou-se um forte impacto na relação mãe/filha, que fez com que a mãe entendesse a nova situação como um desequilíbrio da filha. Na verdade, a mãe era a detentora do desequilíbrio e não aceitava a filha decidindo por si mesma.

A suspensão por conta própria (mãe) das sessões parecia muito mais uma questão de princípios do que propriamente financeira. Significava que a paciente começava a buscar seus próprios caminhos. A mãe, que via na terapia da filha o retorno da personalidade original, não conseguindo tal resultado, atribuiu a resultados negativos, o que, verdadeiramente, era o contrário.

A avó, figura marcante no primeiro contato, não se pronunciou em nenhum momento e mesmo a mãe jamais tocou em seu nome.

Como a paciente não compareceu e não avisou como de costume, liguei para saber se poderia suspender a sessão. A avó, que atendeu ao telefone, comunicou que a neta viajara com sua mãe, esquecendo-se de suspender a sessão. Nas informações da filha, mãe da paciente, acontecera um retrocesso, ou, nas suas palavras, uma piora.

Por conta da mãe, as sessões foram suspensas.

Dois anos depois, a paciente me ligou. Estava feliz em um novo emprego, já há oito meses, e cursando o primeiro ano de faculdade. Apesar de estar namorando, não pensava em nada sério antes de ter sua vida definida. Por conta da universidade escolhida, mudara-se de cidade e estava dividindo um apartamento com duas amigas, tomando, na maioria das vezes, as decisões sobre o grupo.

Antes de desligar o telefone, disse que sentia saudades das nossas sessões e muito me agradecia por ter lhe mostrado um novo horizonte.

 

Omar Carline Bueno

Psicoterapeuta 

 
 
 
 

Quer saber mais?

www.clubedeautores.com.br/book/37419--Perguntas_que_voce_gostaria_de_fazer