VESTÍGIOS NEOLÍTICOS

O livro “VESTÍGIOS NEOLÍTICOS de Itapira a Socorro” traz à tona, informações arqueológicas levadas a efeito através de pesquisas e escavações efetuadas pela SIFETE – Pesquisa Científica.

As descobertas têm início na região de Itapira, Estado de São Paulo, onde a SIFETE – Pesquisa Científica apresenta, através de seus achados, vestígios de aldeamento e remanescentes de tribos Caingangues na região.

Seguindo pegadas e caminhos de caça, deixadas por caçadores e coletores, a equipe da SIFETE, sob a consultoria do antropólogo e arqueólogo Dr. Prof. Desidério Aytai, chega ao local de um possível aldeamento neolítico na cidade de Socorro – SP.


ARQUEOLOGIA - Expedições e Pesquisas

 

Nestas páginas vamos contar um pouco das histórias vividas por mim e muitos de meus amigos que fizeram parte da minha equipe de pesquisa. Em 02 de agosto de 1975, fundamos a SIFETE - Sociedade de Investigações de Fenômenos Terrestres e Extra-Terrestres, que mais tarde, viria a ser conhecida apenas como SIFETE - Pesquisa Científica.

A ideia era trabalhar com pesquisas nos campos da Arqueologia, Ufologia e Parapsicologia. Contudo, o intuito principal era poder desenvolver pesquisas arqueológicas dentro da legalidade, pois, pela lei brasileira, tais pesquisas não podem ser desenvolvidas de forma amadora. Como vivíamos sob o regime da ditadura militar, fundamos a Instituição, com a aprovação do Governo Federal, obtendo desta forma autorização para tal. No entanto, mesmo antes de sua fundação, já registrávamos os primeiros trabalhos.

 

I EXPEDIÇÃO CIENTÍFICA

 

Em 27 de março de 1975, foi registrada a I Expedição de caráter arqueológico. 

Itapira - Vale do Rio do Peixe.

De 27 a 30 de março de 1975.

Em março de 1975, trabalhava na IBM Brasil na cidade de Sumaré - SP.

Estava em discussão em um grupo de amigos, alguns fatos arqueológicos. Assim, interessado no assunto, me envolvi na conversa.

Estava no grupo José Ítalo Silvestrin, formado em Letras, pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, o qual trabalhava como Suporte Técnico de Processamento de Dados. Tinha 28 anos e era grande amante da Arqueologia. Apesar disso, não tinha tempo disponível para se desenvolver na disciplina.

- Você se interessa por Arqueologia? Me perguntou.

- De tudo aquilo que é mistério. Gosto do desconhecido, gosto de descobrir, gosto de criar.

- Sabe; eu tenho um tio em Itapira que encontrou umas pedras bastante curiosas. Ele as guardou porque são diferentes. Eu não cheguei a vê-las mas tenho certeza que são machados de pedra polida. Se você quiser, posso levá-lo até lá!

Pela descrição eram Neolíticos sem dúvida nenhuma. Hipoteticamente, teriam de 6 a 8 mil anos.

Aquilo interessou-me e procurei partir para o local o quanto antes.

Primeiramente falei com Paulo Lucena, um amigo que operava computador. Já havíamos discutido muito sobre Parapsicologia e tentado até algumas experiências no campo. Apesar de para ele não passar de simples curiosidade, prometeu que me acompanharia. Ele tinha um VW 68 e isso facilitaria a nossa investida visto que eu, na época, não contava com veículo próprio. No entanto, por motivos particulares, teve que desistir da viagem. Quanto a mim, iria de um jeito ou de outro.

No dia seguinte conversei com Edenir de Oliveira, o Ponei, meu amigo particular.

Levantei a hipótese de uma expedição a Itapira a que ele concordou prontamente. A idéia era verificar o material encontrado pelo Sr. Alduino Barricatti e através de um levantamento, iniciarmos pesquisas e possíveis escavações na região. Assim, um final de semana prolongado seria o ideal. Imediatamente liguei para o Ezequiel, pois pretendíamos dar início nos preparativos o quanto antes.

 

Após levantada a idéia de uma expedição a Itapira, a qual Edenir de Oliveira (Ponei), havia concordado prontamente, pensamos em verificar o material encontrado pelo Sr. Alduíno Barricatti e, através de um levantamento, iniciarmos pesquisas e possíveis escavações na região. Seria necessário um fim de semana e se possível um que encarrilhasse feriados. Imediatamente liguei para o Ezequiel, pois pretendíamos dar início nos preparativos o mais breve possível.

Ezequiel da Silva foi a primeira pessoa a se envolver em minhas pesquisas, ufológicas principalmente, isso em 1971. Em 1972 nos empenhamos nos estudos de Danïken, o que nos fez relacionar a Ufologia com a Arqueologia.

Ezequiel era o tipo de pessoa que gostava de florear os fatos adicionando, às vezes, dados, eu diria, incorretos. No entanto, eu depositava inteira confiança nele e diante dos perigos e problemas que surgiram mais tarde em expedições, minha confiança aumentou, pois tudo ele sabia a respeito de acampamentos e sobrevivência e afirmava com convicção. E sei mais; a fé que ele depositava em mim e em tudo aquilo que eu dizia e fazia, era imensa e, pela amizade que se criou entre nós, me fazia pensar que ele daria a própria vida pela minha.

Já estivéramos uma vez empenhados em pesquisar casos de Ufologia como o que se tornou manchete no jornal "Correio Popular" de Campinas: "Bola de fogo será Disco Voador?".

Em 26 de março de 1975 estava tudo pronto para a partida. Itapira dista de Campinas 78 Km, trajeto que faríamos de ônibus, pois não tínhamos condução própria. No último momento, o Ponei não pode nos acompanhar, pois seu pai adoecera. No entanto, um amigo do Ezequiel, Paulo Donizeti Silva, participaria desta expedição.

Paulo Donizeti trabalhava como desenhista técnico no jornal Correio Popular. Era o típico sujeito pacato. Passava horas sem dizer uma palavra. Jamais consegui descobrir no que ele pensava tanto. Era pessimista ao extremo e apesar de aceitar todas as ordens em uma expedição, nunca acreditou que chegaríamos a desenvolver a pesquisa científica. Participava de nossas expedições apenas por higiene mental, porém, dava mais importância à rotina do dia-a-dia.

Em 27 de março de 1975, à 08:00h, eu estava de partida para Itapira. José Ítalo Silvestrin serviria de guia e indicaria os caminhos em que faríamos pesquisas. Estava partindo para fazer o contato, pois o Ítalo haveria de me esperar em Itapira. Era quinta - feira da semana santa e, apesar de na IBM eu não trabalhar, o Ezequiel, que trabalhava na FEPASA e o Paulo Donizeti no Correio Popular, não tiveram esta regalia.

Pela descrição eram NEOLÌTICOS sem dúvida nenhuma. Teriam de 6 a 8 mil anos como constatei mais tarde.

A idéia primeira era de eu acampar aquela noite e na sexta-feira, voltar para a cidade e apanhar os dois. Porém, existiam dois problemas: condução era o primeiro e o outro, o Ezequiel achou muito arriscado eu passar a noite sozinho no acampamento, pois se algo de grave acontecesse, eu estaria a 18 Km da cidade. Concordei e assim, por volta das 21:00h, deveria esperá-los na rodoviária.

O moedor tinha a forma de um cone com 11,7cm de altura; a base tinha 5,8cm de diâmetro.

Às 10:00h já estava em Itapira. Fui muito bem recebido pela família Silvestrin a qual me deu todo o apoio possível. Para um estranho na casa, nunca me vi tão à vontade e em pouco tempo, já me sentia como um velho amigo da família. Passei todo o dia junto dos Silvestrin, e só partiria para o sítio de pesquisas por volta das 23:00h.

Após a recepção que tive em Itapira, aguardei achegada dos componentes de minha pequena equipe.

Às 21:50h recebi Paulo Donizeti e Ezequiel. Todos os equipamentos e mantimentos já estavam preparados. Partiríamos assim que possível.

Carlos, irmão de Ítalo, nos forneceu condução até o local. Contamos também com a colaboração do seu primo "Pinduca", que aliás, cozinhou pra nós no primeiro dia. Passariam conosco somente a primeira noite, pois tinham de voltar ao entardecer do dia seguinte.

O local era no sítio do Sr. Alduíno Barricatti, no Vale do Rio do Peixe.

Eram 23:55h quando chegamos. O Sr. Dino (Alduíno) nos recebeu muito bem e permitiu que nos alojássemos em seu celeiro. Às 02;00h do dia seguinte, já adormecidos, fomos acordados com a chegada do Ítalo e o seu tio Dino. O Ítalo passaria a noite conosco. Trouxeram as pedras tão ansiosamente esperadas. Magníficas. Eram dois machados e um moedor de sementes. O moedor tinha a forma de um cone com 11,7cm de altura e a base tinha 5,8cm de diâmetro. Era de granito assim como os outros e inteiramente polido, e sua perfeição geométrica era espantosa. O menor dos machados tinha 12,3cm de comprimento e apesar de totalmente polido também, não era correto em sua geometria. No entanto, o terceiro achado era estupendo. Com 14,6cm de comprimento, era perfeito em toda a sua estrutura. Colocado em um plano de topo, o corte dele era exatamente o diâmetro maior de uma elipse. Geometricamente exato, polido em toda a sua composição, era trabalho digno de um artista e garanto, jamais tive conhecimento de um material desta classe, mais perfeito do que o que tinha em mãos.

Não foi necessário pedir. O presente já estava feito e o Sr. Dino nunca imaginara a importância que tinha os seus achados para a Arqueologia brasileira. Naquela manhã nos acompanharia até o local dos achados.

Às 06:00h do dia 28 de março, após tudo preparado, partimos. O local era em meio a um milharal e a terra ali já fora revolvida inúmeras vezes. Difícil seria traçar a história dos achados. Podíamos notar até marcas de enxadas e outros instrumentos nos materiais líticos. Provavelmente, há muito estiveram sujeitos a golpes de equipamentos utilizados por lavradores no desenvolvimento da lavoura. Jogados de um lado a outro sem que alguém desse por conta, foram encontrados esporadicamente à centenas de metros uns dos outros. Louvores sejam feitos ao Sr. Dino por ter visualizado precioso material entre milhares de pedras que cobriam toda a extensão do campo.

O terreno era ligeiramente inclinado, o que daria aproximadamente 600 metros de onde nos encontrávamos até o Rio do Peixe. Demos uma busca em toda a região, pois escavações ali eram simplesmente impossíveis. Durante o almoço, Dino nos apresentou mais duas peças de madeira. Sua cor era preta e segundo ele, tratava-se de embuia (árvore da família das lauráceas, encontrada nos estados de Santa Catarina e Paraná e que produz excelente madeira para confecção de móveis de luxo. É uma das madeiras de lei apresentando uma durabilidade espantosa. Possui um aroma suave, o que protege-a contra os ataques das formigas).

Foto: Omar Bueno

Colocado em um plano de topo, o corte dele era exatamente o diâmetro maior de uma elipse.

 Foto: Omar Bueno

O local era em meio a um milharal e a terra ali já fora revolvida inúmeras vezes.

Uma delas, de 39cm de comprimento, assemelhava-se a uma picareta que provavelmente fora utilizada na agricultura ou na coleta de material argiloso para a manufatura de utensílios de cerâmica. Uma das pontas era afilada e,

na outra, com um buraco grotescamente trabalhado, exerceria amarração em um cabo de osso ou talvez do mesmo material que teria se alienado da peça principal. A outra, semelhante a um arado, abria-se como um compasso, em duas pernas, com 35cm e 29cm respectivamente, em um ângulo de 40°.

Foto: Omar Bueno

Uma delas, de 39cm de comprimento, assemelhava-se a uma picareta...

A peça, semelhante a um arado, abria-se como um compasso, em duas pernas com 35cm e 29cm respectivamente, em um ângulo de 40 graus.

Os dois últimos achados, da matéria anterior, de um período mais recente, foram encontrados às margens do Rio do Peixe.

Após um dia inteiro de pesquisas, constatamos a presença de um polidor, ou seja, pedra de polir. Eram milhões de pedras que se estendiam pela região e o encontro de algo não natural, era praticamente um milagre. Esse polidor, tinha uma das faces incrivelmente plana. Uma lâmina de barbear que fosse passada ali não sofreria sequer o menor deslize. Os utensílios, aliás encontrados à flor da terra, estão em poder da SIFETE, exceto o arado do qual o Sr. Dino não quis se dispor, apesar da insistência.

Soubemos no entanto, que o rio na época das cheias, inundava todo o vale, sendo portanto mais provável que os objetos tivessem sido transportados através da correnteza, motivo esse, da imensa quantidade de pedras predominante no vale.

No dia 29/03/75, bem cedo, já déramos início em nossos trabalhos. Daí em diante, o Sr. Dino nos guiaria.

A 12 quilômetros do nosso alojamento existia um vale no fundo de um desfiladeiro que segundo o Sr. Dino fora habitado há alguns séculos. Segundo a tradição, século XVIII possivelmente. Partimos pela manhã e andamos grande parte dela fazendo paradas para descanso e para que pudéssemos documentar, através de fotos, o nosso percurso.

DESCOBERTAS DO SÉCULO 18

09/11/2014 14:39

A I EXPEDIÇÃO da SIFETE - Pesquisa Científica já havia encontrado várias peças arqueológicas do período Neolítico. Claro que muito ainda tinha pra ser encontado e estudado. Como minha equipe ainda tinha tempo, buscamos vasculhar a área em busca de novos vestígios. Tínhamos um bom guia e isso poderia ajudar seguramente.

Andamos grande parte da manhã fazendo paradas para descanso e para que pudéssemos documentar através de fotos o nosso percurso.

A "Fiança", cadela fiel, nos acompanhou todo o tempo nessa expedição.

Chegamos ao vale, indicação do Sr. Dino, nosso guia, e a esplêndida visão nos obrigou a parar para que pudéssemos contemplar tão magnífica natureza. Era como uma enorme boca, com seus 4 quilômetros de diâmetro, a devorar frondosas árvores e bananeiras carregadas. Tínhamos que descer uma grande encosta, bastante perigosa e devido a cautela, levamos algum tempo.

O mato era muito fechado. As bananas maduras que encontramos nos deram o almoço naquele dia e ainda levamos algumas para o alojamento.

Penetrados na densa vegetação, podíamos sentir a flora e perceber a fauna circundante. Os brejos, que nos atolavam até os joelhos, não eram motivos para retroceder.

Após bom tempo de caminhada, chegamos ao leito de um riacho. Já estava anoitecendo. Algo parecia estranho ali, e ao penetrarmos num cerrado núcleo de centenárias árvores, pudemos notar o que restou de muros de taipa de um período em que o trono português dominava o nosso minério e o nosso café. Limpamos o local para que pudéssemos visualizar tão rústica construção, mas que por ser de barro amassado e tiras de bambu, era bastante forte para que pudesse suportar a intempéries durante dois séculos. Eram enormes blocos, partidos daquilo que em pé, abrigou da chuva e do vento, o humilde homem do campo, sem dúvida nenhuma do século XVIII.

Foto: Omar Bueno

Ruínas de taipa do século XVIII.

COMPLETO LEVANTAMENTO CIENTÍFICO (I Expedição Arqueológica)

19 horas, já bastante escuro, pegamos o caminho de volta. As luzes das lanternas, bastante fracas devido ao gasto na noite anterior, não comportariam a escuridão e a lua surgiria somente por volta das 20h 20m,lua cheia. Sendo o Sr. Dino conhecedor da região, indicou-nos um caminho que, apesar de mais curto, era mais perigoso.

Atravessamos o riacho e o lodo grudado nas botas aumentava o peso da caminhada. Encobertos pela mata, não tínhamos nada em que pudéssemos nos orientar visualmente e não fosse o senso de direção mui eficaz do Sr. Dino, não teríamos, talvez, tanta sorte no regresso. Seguíamos passo a passo o nosso guia. Uma pisada em falso e poderíamos nos atolar no brejo e dez metros de atraso considerar-nos-iam perdidos nas entranhas da mata.

A caminhada foi difícil e cansativa e os desfiladeiros e trilhas pelos quais passamos não nos asseguravam quanto a perecermos em uma emboscada.

Começamos a transpor o morro que era o nosso último obstáculo no regresso. O lamaçal sob os nossos pés já deixara de existir e a abrupta aparição de uma incidência no terreno, encoberta pela vegetação, já não poderia nos causar abalroamentos como ocorrera um pouco antes. Contudo, o maior problema vinha agora. Com as fracas luzes das lanternas, difícil era saber que bases teria o nosso próximo passo. O Sr. Dino puxava a fila seguido pelo Ezequiel, o Paulo Donizeti e eu como último homem. A trilha, com pouco mais de meio metro, circundava o morro em uma subida lateral. Assim, à esquerda, tínhamos um paredão que se erguia até o cume e, à direita, um abismo no qual uma queda seria fatal.

Foto: Ítalo Silvestrin

Equipe que compôs a I Expedição.(Paulo Donizeti, Ezequiel da Silva e Omar Carline Bueno) 

O peso das mochilas pendia para os lados e o olhar estava fixo no caminho. Pequenas pedras já eram suficientes obstáculos e um corte de 30cm no caminho, não foi percebido por Donizeti. Quando pisou e não encontrou amarração nos pés, agarrou-se em mim, que era o mais próximo, tentando evitar a queda e não fosse a rapidez do Ezequiel, que imediatamente nos deu apoio, eu não teria suportado o peso que se acercou de mim tão inesperadamente.

Passado o susto, prosseguimos e às 20h e 40m estávamos de volta ao alojamento onde preparamos a refeição com mandioca colhida durante o percurso.

Em 30 de março de 1975, usando o próprio alojamento como laboratório de análise, procuramos identificar os achados e colocar em dia nossos relatórios. Tínhamos de retornar e assim, dei por fim a nossa I Expedição.

Apesar do curto tempo que nos era disponível, no qual foi feita essa expedição, foi possível, graças ao trabalho do meu grupo, esgotar o sítio arqueológico, num completo levantamento científico.

Por: Omar Carline Bueno

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O PERÍODO NEOLÍTICO

 

É no período Neolítico que o homem começa a se interessar pela agricultura e a aprisionar filhotes de animais para amansá-los e utilizá-los na caça e no desenvolvimento agrícola.

O cachorro foi possivelmente o primeiro animal domesticado e o cavalo, possivelmente o último. Na agricultura, o boi é que exercia a preciosa ajuda na aragem.

A necessidade de aldeamento tornou-se fundamental e era preciso preservar a terra dos povos que viriam depois em busca da fertilidade. Criaram celeiros nos quais esticavam alimentos para o inverno, destinados aos animais ruminantes.

Desenvolveram a agricultura, conhecendo o trigo, a cevada, a espelta e o painço. Cultivaram o linho, fornecedor da matéria prima para a confecção dos tecidos e ainda a cerâmica, que criada, teve elevante progresso.

O sílex era muito usado na fabricação de lâminas, pontas de flechas, dardos e raspadores.

O polimento de materiais líticos é uma das primeiras características da época. No entanto, não era o polimento para o embelezamento do material, mas para um melhor aperfeiçoamento, ganhando maior potência na perda de suas arestas, conseqüentes da talha.

Ainda, com chifres de cervos, ossos e madeira, eram feitos suas armas e instrumentos de trabalho.

Na ornamentação encontramos colares de contas de pedras, conchas perfuradas, presas de javali, extremidades de chifres de veados e braceletes de valvas de grandes pedúnculos.

As necrópoles onde eram enterrados seus mortos, apresentavam-se como fossas cavadas no chão ou em cofres feitos de lajes de pedra. Às vezes, eram sepultados em grutas ou quando era desfeita a carne, após o seu sepultamento, os ossos eram recolhidos e transportados a outros lugares.

Já no fim do período surge uma divindade funerária, cuja representação era gravada em baixo relevo na entrada das grutas funerárias.

II EXPEDIÇÃO ARQUEOLÓGICA (1.ª Parte)

                O dia 21 de abril, feriado, cairia em uma segunda-feira. Assim, planejei uma segunda expedição à Itapira. Desta vez seria na fazenda Fortaleza, a 32 quilômetros de distância de onde estivéramos a primeira vez. Soube que explosões na mina de cal da pedreira Fortaleza haviam libertado materiais fósseis.

                A idéia era verificar a validade dos fatos e promover escavações se necessário fosse.

                No dia 18 de abril de 1975, Sexta-feira, com todo o equipamento necessário preparado, partimos. Desta vez haviam novos elementos na equipe que totalizavam seis: Edenir de Oliveira (Ponei), Ezequiel da Silva, Paulo Donizeti Silva, meu irmão Odair Carline Bueno e José Wilson Francisco (Tio).

                O grupo cresceu, asseguro, mais pelo entusiasmo da aventura que se acercou dos novos elementos, após verem, através de fotos, e ouvirem sobre o que passamos e vivemos na I Expedição. Levados por esse espírito, estavam desejosos, Odair e Wilson, de me acompanharem nessa II Expedição, ao qual propósito, não fiz objeção.

                O Odair já havia me dito: "Na próxima, eu vou com você". Eu sabia que o principal motivo, era a preocupação que ele sentia por mim. Era meu irmão mais velho e eu, na época, com 19 anos, não me achava, segundo ele, alto suficiente para me defender e agir perante os perigos e dificuldades da mata. Era nervoso ao extremo e normalmente retrucava às normas da equipe. Mas como se sentia bem no campo. Adorava o ar puro, gostava de pisar a relva macia e sentir a natureza circundante. E ainda, além de irmão, era meu maior amigo.

                O Tio era completamente o inverso. Era a calma em pessoa e executava a sua função sem nenhuma objeção. Era um rapaz alegre e jamais o vi de modo diferente.

                Os 70 quilômetros transcorreram normalmente e desembarcamos na rodoviária às 21h 30m. Entramos em contato com a família Silvestrin que mais uma vez não mediu esforços para nos ajudar.

                Esperamos até as 22h 30m quando conseguimos condução. A C-14 devorava a estrada e a poeira cobria a vegetação rasteira. A noite estava fria e só as estrelas cintilavam no céu. Às 23h 40m estávamos na pedreira e os 6 quilômetros restantes, até a casa de Vicente Lorenzan, no sopé do morro Pelado, faríamos à pé, pois a C-14 não conseguiria subir. Contemplei a lúgubre paisagem e sonhei com o dia "de amanhã". A caminhada seria sofrida mas acreditava no êxito que teríamos. Eu tinha fé na minha equipe.

Foto: Ezequiel da Silva

Equipe da II Expedição

          As pedras que rolavam sob nossos pés, nos retinham a cada passo. Não andáramos muito e apesar da correta explicação do caminho, foi difícil decidir qual dos três deveríamos pegar na primeira encruzilhada.

                O primeiro deu no sopé da pedreira, objetivo dos dias subseqüentes. Nos atiramos no segundo e não caminhamos muito, pois terminava logo adiante. Seguimos o facho da lanterna e o foco parecia perder-se na escuridão. Somente nos próximos dias pudemos notar que o abismo à nossa frente era bastante profundo e poderia nos chamar à morte. Voltamos e pegamos o terceiro caminho que se bifurcava mais à frente. Ao penetrarmos no da esquerda, terminamos novamente no segundo. A sorte não estava ajudando. Só restava agora um único caminho, o correto logicamente. Durante uma hora caminhamos sem interrupção até que por quinze minutos descansamos, prosseguindo em seguida na marcha. Aproximadamente a 500 metros da casa de Vicente Lorenzan, acampamos por aquela noite. A lua nascera a pouco e já nos banhava de prata. Eram 2 horas do dia 19 de abril de 1975 e após um café, pronto na hora, aproximamo-nos da fogueira e nos protegemos do frio que enfrentaríamos naquela madrugada.

Foto: Omar Bueno

                Logo de manhã procuramos pelo proprietário da fazenda, que se mostrou bastante cordial e atencioso, colocando à nossa disposição o celeiro onde nos alojamos.

Foto: Omar Bueno

                Às 8 horas do Sábado, iniciamos a escalada do Morro Pelado, com o propósito de desvendarmos o mistério da sepultura.

Foto: Omar Bueno

Vista do Morro Pelado

(Continua no próximo n.º)

Texto: Omar Carline Bueno

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