OS NOVOS VALORES DA IDADE

18/08/2015 13:51

Após as primeiras análises, conclui que a paciente tinha uma situação traumática ocorrida durante o processo de separação dos pais.

A escola, ponto principal de sociabilização, foi a primeira coisa a ser excluída. Abandonou os estudos não fazendo nem mesmo as provas de final de ano. 
Pouco se lembrava de experiências interessantes ao lado da mãe. As melhores lembranças foram ao lado da avó. Exceto na primeira sessão, jamais falou do pai.

Perguntei sobre seus medos, se tinha medo de algo e ela, após pensar longamente, respondeu que não tinha medo de nada. No entanto, todas as vezes que a conversa partia para esse lado, notava uma transformação na paciente. Ela parecia transformar-se numa criança, alterando inclusive sua maneira

de falar. Ficava mais cadenciada e até o tom de voz ficava mais infantil.

Buscando colocá-la na realidade atual, mostrando-lhe os novos valores da idade, perguntei-lhe sobre o que pensava do futuro. Disse que pensava em ter sua própria casa para poder arrumá-la do seu jeito. Demonstrava, e muito, o seu senso de organização e limpeza. Dizia que gostava de todas as coisas no lugar e a casa devia estar sempre limpa e arrumada. Pensava, realmente, em constituir uma família, com filhos, não especificando quantos.

Falando de emprego, preferia um lugar onde tivesse o horário da manhã livre como num shopping center por exemplo, pois lá, além do horário, estaria em contato com muitas pessoas.

Em um breve contato com a paciente, durante a semana, soube que havia voltado à vida estudantil buscando recuperar o que havia ficado para trás.

Ela mantivera contato mais estreito, durante a semana, com uma de suas colegas de classe, exatamente aquela que, segundo seus comentários, tinha maior simpatia. Comentou sobre seu jeito de falar e das suas ações com um carinho especial, dizendo ainda que tinha maior afeição por ela do que pelas outras colegas de classe.

Paradoxalmente, estivera estudando com a amiga e comentou que a colega sabia o bastante para uma boa nota.

A nota máxima tirada pela colega fez com que ela ganhasse um pouco mais de auto-estima, colocando-se no lugar de orientadora ao invés de dependente. Sentiu-se como se estivesse dirigindo a amiga, tomando conta da situação.

A sessão seguinte foi totalmente diferente das iniciais. Já bastante confiante, procurou assuntos relacionados aos seus conhecimentos adquiridos durante a vida estudantil. Falou de fatos históricos que havia aprendido, bem como dados geográficos, mostrando-se bastante confiante e segura.

Sobre seus dotes culinários, algo que acha imprescindível para uma vida a dois (nota-se sua preocupação em relação à família e a um relacionamento sólido), fez comentários longos a respeito dos pratos que sabe fazer. Acha que a comida do marido quem deve preparar é a esposa e não a empregada.

Do seu cardápio pessoal, carne não faz parte. De nenhuma forma. Nem mesmo a carne branca. No entanto, adora molho vinagrete e doces, principalmente brigadeiro.

Em relação aos amigos, disse preferir amigos mais velhos, mas incrivelmente seus amigos são sempre mais ovos.

Na sessão seguinte, chegou reclamando de dores nas costas. Estava impaciente, como se quisesse que a sessão terminasse mais cedo. Nesse momento, falamos sobre postura e maneiras de se sentar para aliviar o problema. Após uma rápida massagem, sentiu-se melhor e continuou a conversa mais tranqüila. A necessidade que tinha de um contato maior estava bastante clara. Ser abraçada ou simplesmente tocada lhe fazia sentir segura e protegida.

Na sequência, fizemos alguns testes utilizando o baralho Zenner. A idéia era analisar sua sensitividade, para poder trabalhar diretamente em seu subconsciente. Era preciso que a paciente sentisse a mudança de valores ao longo do tempo.

Fim da 4ª sessão.

Omar Carline Bueno - Psicoterapeuta