FAZENDO UMA RETROSPECTIVA DA SESSÃO ANTERIOR...

13/10/2014 13:08

A mãe da paciente me procurou, pois a filha apresentava apatia e abandono dos estudos, da escola e dos amigos.

Duas semanas depois a paciente compareceu à primeira sessão.

No colégio ou em qualquer outra atividade não conseguia concentração.

A sua infância foi sempre muito tumultuada. Pai e mãe tinham brigas constantes.

Após a separação, o pai mudou totalmente de vida.

O seu único namoro também foi cheio de idas e vindas o que fazia com que ela revivesse, a cada briga ou reconciliação, a situação já vivida entre pai e mãe, quando ela tinha 9 anos.

Parou de sair de casa, inclusive ir à aula, para não deixar a família. A sensação de perda era constante. A avó, sempre preocupada, mantinha-a por todos os modos em sua guarda. Assim, ela dormia na avó, mas não conseguia deixar de pensar na mãe o tempo todo.

O retorno com o namorado gerou nova depressão. A cada vez que o namorado a tratava como mulher ela sentia-se deprimida e com ódio por ter permitido qualquer aproximação mais íntima. Sentia falta de carinho e afeto e queria se sentir protegida. Via na figura do namorado a figura do pai que faltara desde a infância. Apegava-se a ele na busca de segurança e encontrava, ao invés de um pai, um homem com desejos de homem. Num dos encontros, o namorado deixou uma marca em seu pescoço o que a transtornou. Primeiramente resistiu, mas depois cedeu. Consentiu no momento em que aconteceu, mas odiou depois. Achou que esconder da avó ou da mãe não seria direito e só conseguiu se acalmar quando finalmente contou a verdade.

A família, sempre reafirmava, era tudo para ela. Estava claro que era a própria auto-afirmação pela falta de uma família estruturada. Sentia a necessidade de ser abraçada como se estivesse buscando proteção e afeto e tinha um ciúme muito grande das pessoas que amava. 
Não se sentia abandonada pela mãe, mas ficou claro sua predileção pela avó, que cuidou dela por preocupação.

Dias depois à primeira sessão, a mãe me ligou fazendo comentários sobre os dias subsequentes da filha. Disse que a paciente tivera momentos de ausência inúmeras vezes. Comunicou que iria arrumar o quarto, já arrumado pela mãe, e demorou cerca de três horas limpando os bichinhos de pelúcia.

Foi flagrada pela avó, parada na porta, olhando pra lugar nenhum.

Pediu à mãe para ir ao shopping, mas a mãe me perguntou primeiro para saber se era conveniente. Era clara a insegurança da mãe.

Após as primeiras análises, conclui que a paciente tinha uma situação traumática ocorrida durante o processo de separação dos pais. A transição fez com que ela buscasse apego à avó por inúmeras vezes.

Todas as vezes que ocorria uma nova briga, que gerava um novo afastamento, a mãe colocava os filhos contra o pai. Na reconciliação fazia a operação inversa. Dizia que o pai não era tão ruim e que tudo aquilo era passageiro. Isso, segundo a paciente, ocorreu por sete vezes. A cada vez que ia pra casa da avó, sentia a separação da mãe. Quando voltava pra casa da mãe, sentia a separação da avó.

Apesar de gostar do pai, tinha as histórias da mãe criticando-o na tentativa de justificar a separação. 
O processo de ausência em que a paciente se encontrava na ocasião demonstrava a falta de poder para decidir qualquer coisa em sua própria vida. No entanto, segundo ela mesma, já havia superado esta fase, o que fez com que se sociabilizasse novamente junto aos colegas de escola.

O reinício de um namoro já marcado por idas e vindas colocou-a novamente nesse processo de depressão. A cada vez que as pessoas se impunham sobre ela, ela se sentia desprestigiada e deprimida, procurando a ausência como fuga.

Fim da 2ª sessão.

 

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